04 janeiro 2024

Recantos...

A erosão que se verifica ao longo da costa, sobretudo em algumas zonas do Algarve, sempre me fascinou...
algares, recantos e túneis escavados pelo mar fazem-me recuar uns anos, até à minha infância, em que as histórias de piratas, tesouros, afundadores e contrabandistas abundavam nos livros que ia lendo. 
Agora, anos passados, continuam a atrair-me, sobretudo para ir redescobrindo lugares já quase esquecidos e menos concorridos por estas alturas onde, um banho, faz normalmente parte do programa. 

24 dezembro 2023

21 dezembro 2023

Paquete Funchal

Propriedade da Empresa Insulana de Navegação, foi lançado ao mar a 10 de Fevereiro de 1961, tendo como função a ligação marítima regular entre Lisboa e os arquipélagos dos Açores, da Madeira e das Canárias.

Integrava, na década de 60 do século passado, uma importante frota de navios de passageiros portugueses, constituída à época por mais de vinte unidades, com destaque para os navios "Infante Dom Henrique", "Santa Maria", "Vera Cruz" e "Príncipe Perfeito", os quatro maiores paquetes portugueses, abatidos nos anos setenta, uns anos após o golpe de estado de 25 de Abril.  

Em 1974, a Insulana fundiu-se com a Companhia Colonial de Navegação, dando origem à CTM - Companhia Portuguesa de Transportes Marítimos, passando o "Funchal" a ser propriedade desta última.

Terminou o seu último cruzeiro, em Lisboa, a 16 de Setembro de 2010, tendo sido retirado do serviço para modernização, a efectuar no Cais da Matinha, em Lisboa. Ao longo destes 23 anos efectuaram-se inúmeras tentativas de compra e venda e, até, uma aquisição em hasta pública… o objectivo era o seu restauro e rentabilização, mas, até ao momento, continua atracado… diz-se que estará para breve a sua inauguração como hotel flutuante. A ver vamos…

PS: Por coincidência, soube pela comunicação social que ontem, dia 21 de Dezembro, o navio foi movido para outra localização no rio Tejo, onde se iniciará uma nova fase de transformação da embarcação. Um grupo de investidores pretende posicionar o paquete como um emblema icónico da cultura nacional. Esperemos que o desígnio se concretize!

01 dezembro 2023

1º de Dezembro de 2023

Quando as águas são turvas e lamacentas como aquelas que atravessamos, lembremo-nos daqueles que, com coragem, nos deram a liberdade e a Restauração da Independência. Aos Conjurados de 1640, o nosso eterno louvor!

31 outubro 2023

Samhain

Com a entrada da Estação Escura, começa um novo ciclo, um novo ano. Que a magia dos dois mundos se entrelace nesta passagem e que os antigos nos ajudem nesta difícil caminhada que estamos a percorrer. Bom Samhain!

01 outubro 2023

Um troço refrescante do rio Ceira

Em Cavaleiros de Baixo, um lugar da Pampilhosa da Serra e de Arganil, dividido pelo rio... Com umas bonitas cores de Outono e uma água demasiado fresquinha para nadar, só deu mesmo para passear um bocadinho por dentro do rio. No Verão deve ser bastante agradável: a diferença de temperatura entre a beira-rio e a serra era "só" de 8 graus.

16 setembro 2023

Terra mineral - Terra vegetal

Imaginem umas paredes com umas fiadas de azulejos. Que por acaso são fotografias. E que cada fiada está arrumada, não pelo local onde a fotografia foi tirada mas pela temática. Como em cima: troncos de árvores, folhas vivas, florestas misterioras ou flores do campo. Ou como em baixo: texturas de erosão nas rochas, ou grandes blocos de pedra na floresta... ou flores das arribas com o mar ao fundo... Estes temas e muitos outros mais é o que pode ver na exposição do Duarte Belo, arquitecto que se dedica a fotorafar Portugal, e que, desta vez, resolveu homenagear dois grandes cientistas portugueses: Galopim de Carvalho (geólogo) e Fernando Catarino (botânico). A exposição está patente na Biblioteca Nacional (ver aqui), só até ao dia 29 deste mês! E como brinde ainda pode ver o que está por trás dessas fotografias, como o "mapa" da preparação da várias saídas de campo e dos processos expositivos (em exposições como esta ou em livros do autor), o esquema de arquivo e ainda algumas fotografias de imagens científicas que constam do espóleo da Biblioteca Se tiverem sorte e conseguirem uma visita guiada pelo autor (haverá ainda uma no dia 29), podem ouvir explicações sobre tudo isto, e ainda sobre como constrói as suas próprias molduras e, sobretudo, como edita, imprime e trabalha as fotografias para que fiquem com aquele efeito de azulejo. Também há um livro. Mas que só tem uma pequena parte das fotografias. E que não substitui o efeito conseguido com os "puzzles" expositivos destas fotografias..

31 agosto 2023

Forte de São Lourenço da Cabeça Seca

Em boa hora, a Espaço e Memória e a Aquastart estabeleceram uma parceria que nos possibilitou uma visita ao Forte de São Lourenço da Cabeça Seca, mais conhecido como Torre do Bugio. Como anfitriões, dois historiadores: Joaquim Boiça e Fátima Barros. 

A ideia de uma fortificação para a barra do rio Tejo, destinada a proteger por via marítima a cidade de Lisboa, data do reinado de D. Sebastião, tendo sido escolhido para a edificação o areal da Cabeça Seca (Cova do Vapor / Trafaria), ou seja, um banco de areia formado pelo assoreamento da foz do rio, na confluência com o Oceano Atlântico. 

A sua função seria a de proporcionar fogo cruzado com a antiga Torre de São Gião, actual Forte de São Julião da Barra, protegendo assim as incursões de inimigos pelo lado direito do rio, já que o lado esquerdo estava naturalmente protegido pela acumulação de areias.

Na sequência na batalha de Alcácer-Quibir e da crise sucessória que se instalou após a morte do soberano, a possibilidade de uma invasão pelas tropas castelhanas de Filipe II era real, pelo que foi construída uma estrutura de pequenas dimensões, assente em estacaria de madeira que, entulhada com pedras, serviu de alicerce para uma plataforma com algumas peças de artilharia. Inevitavelmente, em 1580, a armada inimiga destruiu o baluarte que, posteriormente foi desarmado. Paralelamente, a fragilidade do material aliada à instabilidade do local e à acção das correntes e marés, arruinou irremediavelmente a estrutura.

Com o domínio filipino veio a necessidade de melhorar o sistema defensivo da barra de Lisboa, dado que esta estava permanentemente sob a ameaça dos navios corsários ingleses. Em 1586 começaram então os estudos, a cargo do arquitecto Giovanni Casale, para a construção de uma fortificação definitiva. No entanto, somente após a Restauração da Independência as obras foram dadas como concluídas: mais uma vez, a necessidade de rapidamente defender a barra do Tejo de uma forma mais consolidada impunha-se, desta feita para a proteger das incursões castelhanas. A conclusão dos trabalhos foi atribuída a João Torriani, o que se verificou em 1657. 

Durante este longo período existiram sempres estruturas mais ou menos fortificadas, mas sempre pouco eficazes para o fim que se pretendia. Entretanto, em planta datada de 1693, prevê-se a existência de uma torre encimada por um farol que acabou por começar a operar com azeite, no período de Outubro a Março. Esta estrutura foi destruída pelo terramoto de 1755, tendo a sua reedificação sido determinada pelo Marquês de Pombal, entrando em funcionamento em 1775. Em 1911, o forte ainda tinha uma guarnição, tendo inclusive servido de prisão. O nome Bugio provém da palavra francesa bougie, que significa vela de cera ou estearina. 

Em 1957 é considerado um imóvel de interesse público devido sobretudo à existência do farol, estando a responsabilidade da sua conservação, ou antes, a ausência dela, a cargo da Direcção-geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. É confrangedor visitar tanta história e só vermos degradação e paredes nuas, sem qualquer vestígio do passado a não ser na capela quinhentista, neste estado de deterioração. Mesmo no que toca às instalações dos faroleiros, que por lá trabalharam até 1982, restam apenas interiores, em madeira, em péssimas condições. 

Esta fotografia, de 1904, gentilmente deixada registar pelo Dr. Joaquim Boiça, filho e neto de faroleiros do Bugio, com um entusiasmo verdadeiramente contagiante durante as quase três horas que nos acompanhou, mostra as gentes da Trafaria a deslocarem-se a pé para assistir à missa, presidida pelo capelão da fortaleza, aproveitando para isso a maré baixa.

18 agosto 2023

De volta a Almourol...

Integrando a linha defensiva contra os mouros ao longo do rio Tejo, em 1171 da era de Cristo, o Mestre Gualdim Pais edificou o Castelo de Almourol com os freires Templários, seus irmãos. 
Pejada de lendas propensas ao mistério, esta ilhota leva-nos realmente a outros tempos… da antiga linha defensiva é o que resta juntamente com o Castelo de Tomar, embora estejam previstas para breve  escavações em V. Nova da  Barquinha. 

Com uma localização estratégica invejável, passaram pela ilha, entre outros seguramente, lusitanos, visigodos, mouros e finalmente cristãos que, entretanto, tinham chegado à região pelo ano de 1129.  
É neste contexto que Afonso Henriques encarrega os Templários da empreitada de criar uma linha de contensão às investidas mouras, sendo por este facto que o Castelo de Almourol é não só reconstruído, mas também ampliado e alterado em termos arquitectónicos. 
À quem diga que Portugal nasce por força e convicção de um Rei e dos Templários. Tendo a acreditar…

26 julho 2023

Real Quinta de Caxias

Propriedade da Casa do Infantado, a Real Quinta de Caxias foi mandada edificar na primeira metade do século XVIII pelo Infante D. Francisco de Bragança (1691-1746), filho de D. Pedro II e D. Maria Sofia de Neuborg, irmão de D. João V.
A sua localização privilegiada, junto ao Tejo e à antiga estrada real, assim como os cerca de sete quilómetros que distam do Palácio de Queluz, foram factores decisivos para que constituísse um local de veraneio da Família Real.
A peça central do jardim é uma enorme e bonita cascata com três pisos, onde é possível desfrutar da paisagem sobre a barra do Tejo, sendo todo o conjunto povoado por túneis, grutas, pináculos e estátuas, de onde partem jogos de água, agora inexistente devido à situação de seca que se vive, julgo eu.
O grupo central do cenário representa uma cena mitológica, segundo a qual a deusa Diana vinha tomar banho junto da gruta onde o seu amado pastor, Endimião, dormia um sono eterno que lhe permitia fugir ao envelhecimento e à morte. Surpreendida pelo caçador Actéon, Diana, furiosa com a audácia do intruso, lança-lhe água à cara, transformando-o em veado, enquanto este é devorado pelos seus próprios cães. As esculturas, em terracota, são da autoria do escultor Machado de Castro (1731-1822).
Actualmente, o acesso público circunscreve-se somente ao jardim, já que a maioria dos edifícios e as quatro fontes que representam as quatro estações do ano estão em fase de restauro e requalificação a cargo da Câmara Municipal de Oeiras. Aliás, aqui e ali ainda é visível a degradação e selvajaria a que o local foi sujeito depois de anos de abandono.
Como complemento a esta envolvente, é de referir a existência do antigo Convento da Cartuxa que, a par do de Évora, é um dos dois únicos conventos cartuxos em Portugal. Este convento foi fundado no Séc. XVII, em terrenos doados por D. Simoa Godinho, estando o edifício inserido numa propriedade de características agrícolas, como bem espelha o “brasão” do antigo portão, hoje separado da igreja por uma estrada. Desde 1903, o convento alberga as instalações do Instituto Padre António Vieira.
A igreja foi construída no Séc. XVIII e, pela sua excelente acústica, tem recebido regularmente concertos da Orquestra Metropolitana de Lisboa e Orquestra de Cascais e Oeiras. Infelizmente, estava fechada…

23 maio 2023

QUAKE - Centro do Terramoto de Lisboa

Em meados do séc. XVIII, Lisboa teria cerca de 200 000 habitantes, sendo a 4ª maior cidade da Europa. Este painel de azulejos do mercado da Ribeira Velha antes do terramoto, era o local de eleição para os lisboetas comprarem o seu peixe, as hortaliças e frutas provenientes das embarcações atracadas.

A Praça do Rossio por volta de 1750, em que o Hospital de todos os Santos com o seu pórtico manuelino domina o terreiro, onde passeiam aristocratas de ambos os sexos num convívio pouco habitual para a época mas, pelos vistos, usual na capital do Império.

Mas eis que, no dia 1 de Novembro de 1755 tudo muda, após um tremor de terra violentíssimo que, para além de provocar o desmoronamento de uma grande parte dos edifícios, origina inúmeros incêndios, fruto da festividade católica que se festejava e dos milhares de velas acesas para o efeito – Dia de todos os Santos. Como se não bastasse, cerca de 60-90 minutos depois ergue-se um tsunami, que acaba por ser o corolário da desgraça que se abateu sobre a cidade, agora literalmente destruída! 

Neste mapa, podemos ver o que terá sido a penetração das águas na parte baixa da cidade. O número de mortos estima-se em 40.000… foi assim que passei a minha tarde de Domingo... a aprender e a interagir virtualmente com uma situação que, inevitavelmente se irá repetir, embora, esperemos, com um menor impacto sobre a cidade e as suas gentes. Aconselho vivamente uma visita: QUAKE